A lenda da gralha azul
(A.M.de Godoy T.)
Se quiser ver pássaros no jardim é preciso atraí-los e esta atração atende pelo nome de comida.
Há tempos
desejo atrair a gralha azul (Cyanocorax caeruleus) para
meu jardim. Então, tratei de plantar pinheiros do Paraná, como é popularmente conhecida a araucária angustifólia e cuja semente, o pinhão, é o banquete preferido dessa ave. Esta espécie arbórea e abundante na região sul do Brasil e encontrada também, embora em menor quantidade, no leste do estado de São Paulo. Também é conhecido pelo nome de origem indígena kur yt yba, que quer dizer grande quantidade de pinheiros, de onde originou o
nome da capital do Paraná. Por capricho, e
também por homenagem, trouxe as sementes de pinheiros de lá, de modo que várias
mudas, legítimas curitibanas, foram plantadas.
Araucária é
uma espécie de crescimento lento, demora no mínimo vinte e cinco anos para produzir.
Mas como gosto de acreditar que tenho tempo, plantei e esperei. Quando apareceram
as primeiras pinhas, onde se alojam as sementes, com elas veio a esperança de que a gralha azul também apareceria.
A gralha azul é uma ave é de rara beleza, porém mais bela ainda é a lenda que a cerca. Diz que
durante muitos anos ninguém sabia explicar porque os pinheiros eram tão
abundantes em determinadas regiões do Paraná sem que ninguém os tivesse
plantado. Diz também a lenda que a gralha azul é um pássaro que adora pinhão e
por ser uma ave muito esperta e previdente, depois de saciar sua fome sai
enterrando pinhões por vários lugares para depois come-los. Acontece também que
ela tem a peculiaridade de ser muito esquecida, é o que diz a lenda, por isso
nunca mais encontra os lugares onde depositou o seu tesouro. Com o passar do
tempo muitos germinam, crescem e produzem sementes. Assim, sem saber, a gralha azul
vai cumprindo seu papel de plantar essas árvores em vários lugares,
garantindo a preservação da espécie e também o seu sustento. Uma vez me
contaram, e ai já não sei se faz parte da lenda ou não, que a gralha azul é um
pássaro encantado. Quando um caçador lhe aponta a arma ela nega fogo ou explode
sem atirar.
Mais de vinte anos já se passaram desde que as primeiras
mudas foram plantadas e depois destas já plantei outras tantas e todas crescem
sadias. Das primeiras caíram as primeiras pinhas há três invernos. A gralha azul
ainda não apareceu. Mas eu espero e acredito que um dia desses verei aquela ave
de plumagem azul reluzente, com a cabeça e o peito negros e com as penas da
fronte arrepiadas no coração apical de algum pinheiro. E enquanto espero vou
contando a lenda da gralha azul, o que me faz sentir assim como ela, a espalhar
por ai o que me encanta.