Flor da lua
(A. M. de Godoy T.)
Quando
compro ou ganho uma planta geralmente recorro a sites ou livros de botânica pra
saber um pouco do que estou levando para o meu jardim. Às vezes até faço uma
pesquisa minuciosa. Não foi o que aconteceu quando a vinte anos atrás ganhei de
uma tia uma muda de flor, que na verdade era um galho, e ao me entregar aquela
muda disse ser da flor mais linda do mundo.
Essa minha
tia era uma fofa. Achava tudo lindo e maravilhoso de modo que não levei a sério
o que disse e por algum motivo que desconheço não procurei saber que flor
sairia daquela muda, que lembrava um ramo de cacto.
Ela também falou pra plantar no pé de alguma árvore, pois era uma trepadeira, mas que não
fosse um lugar de muita sombra. Fiz como me pediu. Plantei junto a uma
primavera (bougainvillea) de cor sulfurina que fica perto de uma das entradas da casa.
Dois anos
depois alguns galhos de pouco mais de 60 centímetros já haviam se formado. Com o passar dos anos mais galhos foram se formando, os mais compridos
com até quatro metros de altura, emaranhados entre os galhos da primavera. Era
de fato um cacto, diferente dos que conhecia no nordeste brasileiro. Seus ramos
longos, embora lembrassem folhas, eram como hastes achatadas, “gordinhas”, bem
firmes e sem espinhos.
Foram
muitos os verões em que vi vários botões pendurados nos galhos e que demorariam
alguns dias para abrir. Quando voltava a vê-los me deparava com uma espécie de
botão, formado por pétalas brancas, com cerca de 20 cm de tamanho, pendentes
nos ramos. Assim mesmo, de “cabeça pra baixo”. Assim ficavam, não abriam com
a luz do sol, murchavam e caiam no chão. Nunca vi nada mais sem graça e só
mesmo a fofa da minha tia pra achar aquilo a flor mais linda do mundo.
Por ironia
do destino foi somente o ano passado, numa noite de sábado, por volta das onze horas, ao sair pra fora de casa, e por aquela porta onde fica a
primavera, que ao acender a luz me deparei com o maior e mais estonteante
espetáculo de beleza que poderia ver numa noite escura de verão. Trinta e seis
flores brancas, delicadas e riquíssimas em detalhes, com mais de um palmo de
diâmetro, resplandeciam entre os galhos da primavera. Tomei tamanho susto e
gritei: - é a flor mais linda do mundo e acho que a fofa da minha tia deve ter
suspirado um “até que enfim” onde quer que esteja nos braços da eternidade.
Corri no
Google e fiquei sabendo que se trata de uma Hylocereus undatus da família da cactácea cuja flor abre uma só vez durante
a noite e dura apenas algumas horas. Conhecida popularmente por vários nomes,
entre eles rainha da noite, dama da noite e flor da lua, este pra mim o mais
romântico e até lhe atribui um quê de trágico e pensei: uma flor de rara
beleza, apaixonada, se entrega totalmente a lua e pela manhã cai exausta,
pendurada nos ramos, e assim morre!
Soube mais,
que está foi a flor que em 1988 levou Margaret Mee, uma inglesa que morou
muitos anos no Brasil, considerada uma das maiores ilustradora botânica do
século XX, aos 79 anos de idade, a uma expedição na região amazônica para
desenhar a flor da lua em seu habitat natural.
Não sei se
minha tia soube quem foi Margaret Mee, mas ela sabia do que estava falando
quando me disse se tratar da flor mais linda do mundo.
Prima querida, realmente nossa sábia Tia, tinha toda razão!!! Me emocionei muito ao ler, ver as fotos e me lembrar da nossa Alegre e esperta Tia... Saudades!
ResponderExcluirObrigada Querida. Ficaram a saudade, os encantos, a fofura. E a história.
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